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Cap. XVIII:

O Sol ainda não tinha nascido, era a aurora, quando Maia desceu açodada do bonde, diante do condomínio onde morou Gaio até há pouco e ainda morava a mãe dele. Correu aflita para a imponente construção de apartamentos amplamente avarandados – os quais, no todo, lembravam muito os antigos jardins suspensos da Babilônia – e, antes de entrar, assustou-se com o que no céu só agora reparou: um agourento padrão geométrico por toda a abóbada planetária, formado por incontáveis objetos estrelários e aéreos dispostos estaticamente lado a lado e frente a frente tal qual uma grade, ou uma tela, cercando toda a cidade.

Maia bateu impaciente na porta do apartamento de Natura, mas não necessitava de tamanha urgência, a mãe de Gaio logo a atendeu, não se encontrava debaixo das cobertas como se podia supor numa hora daquela.

– A senhora me desculpe perturbá-la tão cedo, mas eu precisava muito falar com o seu filho. Ele ainda está aí, não está?

Natura não saíra direto da cama, mas, com o ar excessivamente pesado e cansado que exibia, bem que um generoso período de sono era tudo do que mais carecia no momento. O rosto contraído e os olhos arenosos e vermelhos revelavam explicitamente que passara a noite em claro, preocupada com Gaio. E de nada lhe valeu botar o pijama, porque sua insônia não se intimidara, não lhe dera trégua.

– Lamento informá-la, Maia, mas ele não está, partiu ontem, no início da noite – disse Natura desanimada, notando que a jovem à sua frente trazia uma cara extenuada, péssima de tal modo que provavelmente não diferia muito da sua.

– Pois tenho de encontrá-lo, senhora! – a emergência se fazia a única fonte de energia restada à ênfase dada à necessidade de Maia. – Ele precisa saber o que Marina fez por ele!

– Calma, Maia. Entre, e me conte.

– Eu fui a culpada! Não a encontrei a tempo conforme Gaio me pedira! – enquanto adentrava o apartamento de Natura, Maia se desesperava mais, ante a expectativa de dar vazão em um desabafo a toda essa aflição que a angustiava.

– Sente-se, por favor – pediu Natura ao conduzir Maia até o sofá de uma sala. – Continue, Maia. O que aconteceu à Marina.

– Algo de muito terrível! Só Gaio poderá salvá-la, senhora! Antes de encontrá-la, descobri que ela também havia se exposto aos ultramundanos para que eles a levassem, quando vira Gaio a eles se entregar, sem saber a verdade, que tudo não passava de um plano perfeito de Gaio. Dizem que, além do “falso” Gaio, os ultramundanos raptaram em sigilo um grande número de pessoas, entre elas Marina, para os mais diversos fins, e não sabemos o que poderão fazer a ela!

– Então foi por isso que os pais dela vieram procurá-la preocupados aqui, ontem, logo depois de Gaio partir – disse Natura, chocada, repassando a memória. – É muito séria a situação dela, não sei como Gaio poderá trazê-la de volta...

O alarme que todos os aeropolitanos tanto temiam e relutavam em não se esquecer de aguardar enfim soou funesta, vibrante e longamente pelos quatro cantos da gigalópole. Entre os colossos de concreto, ecoou por tempo indefinido, na verdade, com força suficiente para penetrar o ceticismo dos mais descrentes e para arrancar da estupefação os mais apavorados. Nas ruas, mesmo que todos soubessem do plano de evacuação, havia muitos desnorteados com a iminência do Armagedom, hesitando entre partir para os abrigos subterrâneos ou permanecer sob a aparente segurança de suas casas. – Vá, Maia, sua família precisa de sua proteção e da ciência de que se acha protegida – disse Natura enquanto observava da janela de seu apartamento a aglomeração caótica em volta dos bondes que aportavam em sucessão. Em seguida, fechou a janela e isolou acusticamente seu apartamento para interromper a entrada do estridente sinal sonoro como alerta para a evacuação total.

– E Gaio? Minha prioridade é encontrá-lo!

– Nesse caso, já que insiste, acho melhor você sair da cidade o mais depressa possível, por meio de um veículo particular, antes que fiquemos sem as vias terrestres que nos levam até o fim destas ilhas. Gaio partiu para se exilar no Tibete, se não a contou, para o Mosteiro dos Esquecidos especificamente, onde, suponho, será demasiado arriscado para você chegar pelo ar.

– Certo. Obrigada, senhora! – o rosto olheirento de Maia parecia de repente iluminado com a simples informação do destino do amado. – Irei já. Agradeço sua preocupação, mas a minha família pode se proteger sem mim. E vou avisá-la de que estarei bem.

Quando deixou o condomínio junto de uma torrente de moradores pressurosos e ganhou as ruas, Maia logo mergulhou no corre-corre que desembocava às portas dos bondes. Dali, da calçada e diferentemente de todos os outros, ela optou, decidida, por chamar uma moto-atômica pelo celular. Alguns minutos depois, o veículo chegou remotamente e, montando nele, ela disparou rumo ao norte, deixando os desvios dos pedestres desorientados por conta própria dos receptores de infravermelho de alta sensibilidade do computador de bordo da grande motocicleta.

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