Elos entre Infinitos
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Cap. VII:
– Ainda preciso conferir qual foi o grau de danificação que a radiação causou em meu DNA. Creio não ter havido danos irreparáveis para minha técnica regenerativa. Contudo, nunca mais, Anarco, nunca mais eu me meto pessoalmente de novo com aquele louco! – disse Assur arrependido e aliviado. Recebia Anarco no escritório de sua secreta mansão localizada numa grande clareira na floresta de gomeiras azuis. Uma mesa composta por um tampo de marfim encimado em destaque por cinco pedras transparentes e poliédricas a encerrar no interior microchips os separavam.
– Você me dizendo assim, esse filho de Tupã parece ser mesmo bem valente – disse Anarco em leve tom de ironia. Recostava-se cheio de si em uma poltrona.
– Ainda não acredita, não é, Anarco!? – Assur se irritou.
– Não me convenci até agora, é verdade – disse Anarco enfatuado. – Todos estão freneticamente falando dele, eu tenho observado. No entanto, só o conhecendo mesmo, para ter certeza.
– Boa ideia, então. Por que não vai logo conhecê-lo? Assim, poderá acreditar em mim.
– Sim, irei conhecê-lo em breve, se preciso for, Assur. Agora, não. Já lhe disse: meus pupilos ainda estão em formação.
Assur lançou um olhar indignado sobre Anarco.
– Não percebe que os aliens também representam uma ameaça enorme? Eles voltarão para terminar o serviço! – Anarco tinha sido enfático, algo incomum, Assur notou, principalmente depois que o pouco confiável mas igualmente indispensável colega desenvolvera poderes atômicos. Nunca se dava ao trabalho mais exigido para convencer alguém. – Uma nova batalha será inevitável. Por isso, convencerei o Parlamento da necessidade urgente de nos rearmarmos. O convencerei nem que seja à força. E não prescindiremos de muitas de suas fantásticas armaduras.
Assur manteve o olhar indignado sobre Anarco por um tempo: – Estou vendo que não posso mesmo contar com você – disse. Odiava dar alguma razão ao arrogante colega. – Nesse caso, contra meu inimigo particular eu agirei mesmo sozinho.
Anarco reagiu expressando incompreensão e surpresa na cara invariavelmente debochada.
– É grandemente arriscado, mas tenho um plano em nada de pouca monta – disse Assur e inclinou-se para os poliedros em cima de sua mesa.
Anarco teve a atenção fortemente atraÃda pela referência indireta.
Na pedregosa e gélida fralda do elevadamente hostil K2, alguém avistado por um outro que pachorrentamente se aproximava sucumbia ao frio implacável e à solidão oceânica. O ar, mesmo em suave movimento sob o crepúsculo vespertino e avermelhado, dava a sensação insuportável de estar esfolando a pele de um fragilizado. Esse não era o caso, ou estado, do dito outro. Caminhando de vagar, mas inexoravelmente alentado, este, Gaio, que se movia na direção do primeiro, fazia uma postura incomumente altaneira, embora perfeitamente condizente consigo, de quem pretendia arrostar à altura a gigante montanha avante.
Ao se aproximar do sucumbido, Gaio o olhou do alto, impassÃvel. Com as extremidades do corpo já congeladas e enegrecidas, o sucumbido, aparentemente Dúbio, prostrado imóvel e ofegante ao chão nevado, conseguiu mexer a cabeça trêmula em resposta aos passos que haviam então chegado até ele. A despeito de alquebrado até para manifestar uma reação emocional, ainda assim encarou surpreso Gaio.
– Cai fora deste lugar, miserável! – disse Gaio inclemente. – Vai choramingar suas dores em outro inferno. Aqui, está me estorvando!
Em resposta, Dúbio usou a pouca energia de que dispunha e reunida pela detonação da raiva para tentar erguer-se. Vergonhosamente insuficiente, ela apenas exacerbou sua tremedeira geral. Gaio, de seu lado, observou inalteradamente insensÃvel.
Sem outra saÃda, Dúbio procurou se acalmar, mas sem se resignar.
– Gaio – disse num expiro árduo Dúbio. – Perdoe-me por ela. Eu não vim aqui com a intenção de hostilizá-lo!
Gaio manteve-se indiferente. Dúbio apelou:
– Gaio, lembre-se..., você mesmo me disse que me deve mais de uma!...