Fogo e Queda
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Cap. VIII:
Aproximou-se com passos lentos, arrastados certamente por causa do peso da enorme mochila que trazia às costas, da monumental fachada com seu rasgo de mesmas proporções ao meio e em forma de cunha. Um silêncio incomum, completamente estranho, imperava de fora a fora, inclusive de baixo para cima, o qual tomou por uma terrível visão. E essa visão, já um tanto turva por causa do ferimento não devidamente curado em seus olhos, ficou ainda mais sombria quando conseguiu reparar que emanava fumaça de várias, inúmeras, janelas à frente e no alto, e no bem alto. Suas entranhas revolveram abissalmente. Relutou resistentemente a crer no que via. Ansiou desesperadamente estar tendo um pesadelo, mesmo o pior deles, do qual uma hora poderia acordar. E então disparou para dentro do infindável edifício.
Adentrou o colossal hospital por uma parte de toda sua vasta recepção, onde ninguém viu, ou pelo menos a tudo ignorou por causa da pressa tão aflitiva. Dirigiu-se sem desembalar a um dos numerosos elevadores espalhados por aquele andar. Penetrou-o e logo o foi programando para levá-lo aonde queria. Sem conseguir ver de perto com clareza, encontrou bastante dificuldade para pressionar com alguma certeza os caracteres, no painel de comando da cabine, que se traduziam em seu destino. Enquanto as portas finalmente se fechavam, não reparou que algo ou alguém parecia vir em sua direção, em seu encalço.
Mesmo portando um grande volume às costas, achava-se com folga no interior daquele compartimento em veloz elevação. Havia espaço ali dentro para levar umas cinquenta pessoas por vez. E o elevador também fazia extensos deslocamentos horizontais, podendo ir de uma extremidade a outra do vastíssimo prédio.
O jovem de inchados olhos amendoados e, agora, também de expressão tormentosa, não demorou a aportar em um longo corredor. Tão longo quão vazio e impenetravelmente escuro em suas duas pontas opostas, cheio de marcas tisnadas pelas paredes e teto. Ábaco acessou-o cada vez mais abalado em sua determinação de acreditar em poder encontrar o que buscava. Mas persistiu na sequência de seus passos, sem desacelerá-los, à medida que as luzes acionadas por sensores de presença os iluminavam.
Pois Ábaco tinha corrido até uma porta numerada, que imediatamente abriu por meio de uma maçaneta. Atravessou-a com tamanha expectativa que acabou ignorando que as luzes do corredor, depois de apagadas ao cruzá-las, voltavam, bem ao fundo, a nova e rapidamente acender. Profundamente angustiado, Ábaco só queria saber o que acontecera àquele quarto. Pois quando o visualizou, não conseguiu entender nada. Além de vazio, terrivelmente vazio, tudo estava fora do lugar. Principalmente os leitos, separados das estruturas reclinatórias largadas em um canto com um descuido tal que, o que o abismou ainda mais, pareciam simplesmente jogadas, arremessadas, ali.